domingo, 11 de setembro de 2016

Filosofia no 7º ano de escolaridade



 Implementação da FpCJ no 7º ano de escolaridade 
 Escola Secundária D. João II
2016-2017

I.   FILOSOFIA PARA CRIANÇAS E JOVENS – UM PROJETO PEDAGÓGICO

A Filosofia para Crianças é um programa de desenvolvimento do raciocínio e do pensamento crítico que através da prática do diálogo, proporciona o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social, das crianças e dos jovens, nas dimensões crítica, criativa e ética do seu pensamento.
                          Sociedade Portuguesa de Ética e Filosofia Prática


O já reconhecido contributo da Filosofia para Crianças no desenvolvimento cognitivo, social e ético das crianças justifica, por si mesmo, a introdução da disciplina de Filosofia para crianças e jovens no currículo dos ciclos de ensino anteriores ao ensino secundário. A filosofia ensina a pensar, a argumentar, desenvolve o espírito crítico e promove os valores éticos. A metodologia da FpCJ, aplicada em muitos países e já em muitas escolas em Portugal, constitui um importante instrumento para o desenvolvimento cognitivo e para o desenvolvimento de atitudes de cidadania democrática. Proporciona um questionamento propiciador do desenvolvimento do raciocínio e do pensamento crítico; através do diálogo trabalha questões éticas e valores universais, como a Justiça, o bem, a solidariedade. A Filosofia para Crianças e Jovens tem, assim, um papel significativo no percurso formativo dos alunos como base transversal a todas as áreas de formação.
A implementação da FpCJ no 7º ano de escolaridade baseia-se na conciliação dos pressupostos do Programa de Lipman com a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86) e apresenta-se como uma experiência pedagógica adequada ao Projeto Educativo da Escola Secundária D. João II. Deste modo, a FpCJ desenvolve as capacidades de raciocínio e do pensamento em geral, assim como as capacidades de verbalização do pensamento, de confronto de ideias e de reflexão em grupo[1], promovendo o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, propiciando a formação de cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva[2].
Face aos problemas identificados no PEE, falta de competências básicas e indisciplina no 7º ano de escolaridade, torna-se de todo pertinente a substituição da disciplina de Cidadania pela metodologia FpCJ, uma vez que os seus conteúdos surgem aqui por apropriação correlativa do desenvolvimento do raciocínio e pensamento ético. A filosofia para crianças promove o exercício da cidadania no contexto escolar onde se compreende o nosso lugar no mundo e o nosso papel para o tornar mais justo e solidário. [3].


II.             METODOLOGIA



“A ideia de comunidade incorpora a importância da pergunta, da escuta cuidadosa e da participação atenta de todos os membros da comunidade”.                                                   Lipman


Esta aprendizagem da atividade do pensar é feita através da criação de um espaço e tempo de diálogo que procura promover o pensamento através de uma comunidade de investigação na sala de aula, onde as crianças são motivadas a falar e a ouvirem-se umas às outras, na presença do facilitador que orienta o questionamento, garante a liberdade de criatividade e o respeito mútuo.
Impõe-se aqui sublinhar que a natureza da FpCJ se centra na sua metodologia específica. Proporcionar a filosofia às crianças e jovens precocemente, no contexto de uma comunidade de investigação, é um processo que põe, em prática, o respeito por todas as pessoas, a igualdade, a tolerância da diversidade e a recetividade.
A sala de aula deve tornar-se uma “comunidade de investigação” desenvolvendo um diálogo investigativo (variante do diálogo socrático[4]), onde os alunos questionam e problematizam os temas em discussão, orientados pelo facilitador, num processo de descoberta dialógica. É importante atender ao facto de que não se trata de uma conversa, mas de um diálogo criterioso e logicamente disciplinado.
As aulas iniciam-se, normalmente, com uma história ou situação-problema a partir do qual se formulam perguntas, cujas respostas serão objeto de investigação, ocupando o diálogo orientado um lugar de destaque neste processo, de modo a potenciar a discussão e a desenvolver competências fundamentais do exercício do pensar.[5]
Estabelece-se um diálogo a partir de vários pontos de vista que não são apenas uma opinião por virem acompanhados de razões. Um diálogo desenvolve-se recorrendo a exemplos e/ou contraexemplos, na descoberta de relações de ideias e de novas questões. Ao mesmo tempo que as crianças desenvolvem os seus pensamentos aprendem a ouvir-se umas às outras, e a respeitar, mesmo que com eles não concordem, pontos de vista diferentes dos seus.
Esta metodologia é dialógica, o diálogo é disciplinado e moderado pelo facilitador. O papel do professor de FcCJ não é o de responder a perguntas, mas de facilitar o surgimento das perguntas e a procura de respostas dos alunos.
No diálogo, há uma dimensão ética que se concretiza na igualdade e reciprocidade da participação, na manifestação de pontos de vista e na autocorreção. Esta metodologia em si mesma constitui um exercício de cidadania ou educação para a democracia ao desenvolver o sentido crítico, a capacidade de raciocinar e de pensar eticamente, num contexto de participação numa comunidade de investigação.



-         Promover as competências de diálogo, respeito e tolerância, através da criação de uma pequena comunidade de investigação
-         Propiciar, pela comunidade de investigação, o desenvolvimento de destrezas e habilidades de pensamento assumindo a sua transversalidade no currículo
-         Promover, através do diálogo filosófico, o exercício da cidadania de uma forma mais ativa, esclarecida e responsável
-         Desenvolver uma reflexão crítica da realidade, através de um diálogo investigativo, nas suas múltiplas dimensões: antropológica, epistemológica, ética, estética, social e política
-         Favorecer uma atitude crítica, criativa e ética, a partir do questionamento das suas experiências quotidianas, procurando, a partir delas, reconstruir os seus sentidos
-         Desenvolver a consciência dos direitos e deveres no âmbito da vivência em comunidade
-         Educar para os valores éticos universais
-         Contribuir para a formação global dos jovens, promovendo o seu crescimento pessoal e social

Em termos de enquadramento no PEE:

-         Despertar o espírito crítico de desenvolver o raciocínio quer sobre conceitos e relações
-         Incutir, através do diálogo, o gosto pela investigação como processo de autocorreção
-         Valorizar as dimensões relacionais da aprendizagem e os princípios éticos que regulam o relacionamento com o saber e com os outros
-         Promover valores de tolerância, solidariedade, liberdade e igualdade
-         Reconhecer na escola um local privilegiado de aprendizagem, interação, descoberta e cooperação
-         Prevenir a indisciplina, o insucesso e o abandono escolar

  


-         Aprender a ouvir
-         Fazer perguntas cada vez mais pertinentes
-         Verbalizar melhor
-         Descobrir o valor das ideias, das suas e dos outros
-         Ganhar consciência do seu próprio pensamento, estruturando-o
-         Tomar em conta várias perspetivas
-         Ganhar autonomia do pensar e desenvolver uma consciência ética
-         Saber ajuizar: autocorrigir-se, usar critérios apropriados e ser sensível ao contexto
-         Descobrir os vários tipos de relação entre pensar, falar e agir
-         Desenvolver a capacidade de cooperação, estimular o respeito mútuo, melhorar a autoestima
-         Explorar e construir conceitos
-         Estimular a apetência pela leitura, aprender a ler em profundidade, expandir o vocabulário
-         Enriquecer-se com a diferença – com modos de ser, pensar, agir que não são os seus.




[1] Lipman.
[2] Lei de Bases do sistema Educativo, (Lei n.º 46/86).
[3] Filosofia para Crianças no Sistema Educativo Português “A inclusão da Filosofia para Crianças no sistema educativo português promove e potencia aquilo que as sociedades modernas hoje mais reivindicam – o exercício de uma cidadania plena. A cidadania não se exerce e desenvolve no vazio, em abstrato, não basta afirmar a sua necessidade para que passe a existir. O seu nicho natural de construção é, em primeira instância, a escola. Uma escola comprometida com os valores do seu tempo e que se organiza para responder de uma forma mais eficaz a esses desafios, não pode prescindir da filosofia. A filosofia ajuda-nos a entender o nosso lugar no mundo e a forma de o tornar mais justo e solidário.
[4] O método socrático consiste numa prática em que o filósofo utilizando um discurso caracterizado pela maiêutica (levar ou induzir uma pessoa, por ela própria, ou seja, por seu próprio raciocínio, ao conhecimento ou à solução de sua dúvida) e pela ironia, levava o seu interlocutor a entrar em contradição, tentando depois levá-lo a chegar à conclusão de que o seu conhecimento é limitado.
[5] 1) se pratique fazer perguntas e explicá-las; 2) se aprenda a ouvir as perguntas e comentários dos outros participantes; 3) se aprenda a identificar contradições, consequências e coerências das ideias expostas; 4) que se aprenda a saber enunciar o tipo de intervenção que se faz no diálogo (estou a dar um exemplo, a concordar, etc.); 5) que se saiba concretizar o que se diz através de um exemplo e se cultive a procura de contraexemplos; 6) que se aprenda a fazer relações entre ideias (de sessão para sessão, e de uns participantes para outros); e 7) que se pratique respeitar a diferença sem indiferença”

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